segunda-feira, 19 de abril de 2010

O meu primeiro Derby

Eram mais ou menos 10 da noite de dia 27 de Março, um belo sábado. Estava confortavelmente sentada numa mesa virada para a televisão, no café da esquina, e o Benfica tinha acabado de vencer ao Braga. Já podia pensar com mais confiança na ideia de sermos campeões.
- Pai, tu prometeste que íamos ver o jogo com o Sporting...tu prometeste! - suplicava eu ao telemóvel.
- Mas é a uma terça-feira... - desculpava-se ele.
- Não me interessa, se não quiseres ir vou eu sozinha - insisti.
- Tudo bem, mas só se arranjares amigos para ir contigo...

Sorri. A primeira batalha estava ganha. Arranjar alguém para ir comigo era fácil demais, ora não fossem mais de metade dos meus amigos benfiquistas. E uns quantos deles fanáticos como eu.

Na quarta-feira seguinte apressei-me a ir comprar o meu bilhete, e só quando o tive na mão senti verdadeiramente que de facto eu ia finalmente assistir ao embate dos embates, à batalha das batalhas, ao eterno derby lisboeta. EU IA LÁ ESTAR, DESSE POR ONDE DESSE!
Guardei religiosamente aquele precioso rectângulozinho de papel que me iria transportar para uma noite de emoções fortes e, esperava eu, de muita alegria. Só que ainda faltavam quase duas semanas para esse dia chegar...

Entretanto, ainda tivémos tempo de sonhar com a Liga Europa, primeiro em casa e depois por terras de Sua Majestade. Mas infelizmente não passou de isso mesmo, um sonho. Em lisboa ainda vimos as "meias" ao fundo do túnel, mas um Liverpool demolidor numa Anfiled completamente vermelha acabou com qualquer esperança. As pernas faltaram-nos e a classe de tal adversário não nos deixou continuar. Apesar de tudo, foi incrível ver a recepção dos nossos adeptos à equipa, no aeroporto. Foi com orgulho que assisti àquelas imagens, que provaram a quem ainda não sabia o quão GRANDES somos. Foi dada mais uma prova do incondicionalismo que carregamos connosco, que nos faz estar presentes tanto nos bons como nos maus momentos. Isso foi vísivel na Portela, com os abraços e palavras de incentivo que confortaram uma equipa cabisbaixa. Pelo meio ainda sofremos para arrecadar mais três preciosos pontos rumo ao título, desta feita na Figueira da Foz. Depois do desaire europeu, erguemos a cabeça e seguimos caminho. Agora era tempo de nos focarmos no objectivo principal, que fora sempre o de sermos campeões.

De quinta a terça o tempo demorou a passar. A ansiedade crescia dia após dia, e o desejo de que aquela derrota em Liverpool já tivesse desaparecido da mente de todos era imensa. Não podíamos tremer, perante um Sporting que vinha confiante depois de tirarem a barriga de míséria na jornada anterior.
Apesar de estarem em situações opostas, nada estava garantido. Derby é Derby, e não havia vencedores ou vencidos antecipadamente. Era hora de cada um mostrar o que valia em campo.

Pela minha mente passavam muitas teorias, desde a que o Benfica estaria enfraquecido pela derrota no último jogo e iria ceder, mas, por outro lado, acreditando que frente ao "eterno rival" iríamos mostrar que o último jogo tinha sido só um acidente de percurso. E era neste último cenário que depositava toda a minha fé.

Finalmente chega a véspera do jogo, e os pormenores discutem-se. Fico a saber que vou estar ao lado de um sportinguista no jogo. Rio-me. O meu primeiro derby e logo ao lado de um sportinguista! Avistava-se uma noite de emoções.

Até que por fim chegou o tão desejado dia. Terça-feira, 13 de Abril. Saio de casa de manhãzinha, cumprindo a minha tradição de não vestir vermelho em dias de ir ao estádio. Superstição estranha, eu sei, mas qual é o verdadeiro benfiquista que não a têm? A ironia é ainda maior porque vou vestida de verde. "É para dar azar ao clube que enverga esta cor", justifico a todos os meus amigos que me olham "de lado" ao ver de que cor venho vestida.

O dia arrasta-se lentamente, até que por fim a hora do embate chega. Pelo metro, bem apertadinhos na romaria à Catedral, já se discutem tácticas e jogadores, até resultados. À medida que nos aproximamos da Luz, a animação cresce, e "Ninguém Pára o Benfica".

Ao aproximar-me do estádio a emoção aperta o meu coração, e os meus olhos brilham à visão daquele sítio ao qual gosto de chamar Casa. Tal como eu, alguns milhares de "irmãos" fazem o mesmo. A família benfiquista começa a reunir-se.

Apesar disso, a entrada faz-se de um modo rápido, e apresso-me a ocupar o meu lugar. As equipas ainda aquecem. Fecho os olhos e inspiro profundamente. Arrepio-me num dos momentos altos da noite, quando só consigo ver quase 60mil cachecóis erguidos enquanto ecoa pelo estádio que "Ser Benfiquista é ter na alma a chama imensa". Em seguida, a Vitória faz o seu admirável espectáculo ao qual já nos habituou, e aterra no sítio certo, antevendo um resultado positivo para a nossa equipa.

Os jogadores sobem ao "palco" sob os aplausos aos quais já os habituámos. E é cheia de um orgulho que só os benfiquistas conhecem que os vejo retribuir, incansavelmente, todo o apoio que lhes damos.

Ao meu lado já tinha o "adversário". O jogo começa, e o que eu previa (e mais temia) acontece. O Sporting entra forte, sobretudo tacticamente, e vejo nos nossos jogadores uma atitude rara esta época. Muito fechados, sem reacção, desconcentrados e a deixarem o adversário comandar a seu bel-prazer. Farto-me de gritar para dentro de campo, a mandá-los mexerem-se, típica treinadora de bancada. Apanho uns quantos sustos quando vejo a bola passar bem perto da baliza errada, enquanto que à minha direita o meu amigo discretamente lamenta os falhanços. Afinal de contas, estava no meio do inimigo. Durante a primeira parte, as "provocações" são constantes, mas quem treme mais sou eu. Enquanto isso, observo um estádio inteiro com o coração nas mãos. Pouco se cantou nesse período de tempo. A apreensão pairava no ar, e chegou a temer-se o pior. Onde estava o Benfica que todos conhecemos?

Até que finalmente o intervalo chegou e todos pudemos respirar um pouco de alívio. O pior, esperava-se, já tinha passado. Haveria de ser um jogo diferente na segunda parte. Mas para isso era óbvio que se teria de mudar na equipa. O Éder Luís não tinha sido uma boa aposta para substituir o indisponível Saviola, e estava a acusar a importância que um jogo destes traz. Precisávamos de uma lufada de ar fresco, de dinamismo, de classe. E o que é sinónimo de tudo isto? Pablo Aimar.

Pois é, o jogo recomeçou e do balneário veio El Mago para fazer a diferença. E que diferença!
O Benfica voltou mais dinâmico, mais rápido, mais dominador, agora sim, o verdadeiro Benfica que todos temos tido o prazer de ver ao longo desta época! Do lado adversário não havia resposta a tantas investidas, que por fim tiveram no pé esquerdo do inevitável (e já lesionado no momento) Óscar Cardozo a sua concretização. GOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLLLLOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!
Todo um estádio saltou de alegria,e os cânticos que já antes se faziam ouvir aumentaram de tom. Abracei os meus amigos, sorri e festejei com pessoas que nem conheço mas que sei que são da minha "família". Ao meu lado estava um rapazinho naturalmente cabisbaixo, que sentado ficou enquanto todo o estádio berrava "E quem não salta é lagarto olé, olé". Vivia-se um ambiente incrível, e não tardou muito que a magia que Aimar espalhava se traduzisse num segundo golo, o da tranquilidade (irónico!), marcado pelo próprio Pablito. E que golo! Levou o estádio (ainda mais) ao rubro, algo que me parecia quase impossível. Gritou-se, cantou-se, saltou-se, festejou-se, tudo como uma emoção que nunca antes tinha sentido. A felicidade que me invadia era contagiante, e todo um estádio festejava como se não houvesse amanhã.
Era o meu primeiro derby e estava a ser perfeito.

O segundo golo permitiu-nos respirar fundo e enfrentar os minutos finais com serenidade. Até ao fim do jogo foi a festa total. A euforia dominava, não parei de cantar um minuto, mesmo ja sem voz, "Nós só queremos o Benfica Campeão", festejos sem fim, Olés, tudo o que se exige de um derby. Tudo o que qualquer benfiquista a sério deve poder vivenciar pelo menos uma vez na vida.

O jogo termina, e os 11  heróis são aplaudidos (mais uma vez) de pé por uma multidão incansável, que mesmo a uma terça-feira e debaixo de chuva cerrada se deslocou para os apoiar. E todos eles, que tão bem sabem quão importante é o nosso apoio, agradecem-nos, e eu sinto-me verdadeiramente útil, reconhecida, importante. Sei que já repeti isto milhentas vezes neste post, mas a emoção que sinto naquele momento é incontrolável e ao mesmo tempo avassaladora. Sustenho a respiração e fico por uns segundos a absorver aquele sentimento que se vive em uníssono por todo o estádio. Um sentimento inigualável e que nunca nunca mais vou esquecer.

Lentamente e sob chuva intensa começa a "debandada" geral. Orgulhosamente carrego nos ombros o cachecol vermelho que não só me aquecia o corpo mas sobretudo o coração. Caminhamos em marcha lenta mas alegre até ao colombo, com o sentimento de missão cumprida. Mais uma. Caminhamos determinados até ao SONHO.

Entre o metro e casa, ainda há tempo para ouvir uma acesa declaração de amor ao maior clube do mundo, por um senhor já com alguma idade, que grita, em plena estação da alameda, que "Só nos é que sabemos o que sentimos, mais ninguém pode imaginar o que é isto, o Benfica é muito mais que um clube , o Benfica é uma nação!" E eu sou a primeira (e aposto que não a única!) a dar-lhe toda a razão.

Entro em casa, e revejo mentalmente as emoções dessa noite. E que noite! Provavelmente a melhor enquanto adepta do meu clube de sempre e para sempre. Uma experiência que nunca mas nunca irei esquecer. Foi LINDO!

Inesquecível. Inagualável. Impressionante. Incrível. Emocionante. Apaixonante. Que mais posso dizer?

Apenas que este será concerteza o primeiro de muitos derbies a que vou assitir :)

AMO-TE BENFICA!

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